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Filosofia 10º ano II. A ACÇÃO HUMANA E OS VALORES 1.2.DETERMINISMOS E LIBERDADE NA ACÇÃO HUMANA A- Quais as condicionantes da acção humana ? Estamos totalmente condicionados nas nossas decisões ? Dizer que o homem é um ser biocultural não é simplesmente justapor estes dois termos, mas mostrar que eles se co-produzem e que desembocam nesta dupla proposição: - Todo o acto humano é biocultural (comer, dormir, defecar, acasalar, cantar, dançar, pensar ou meditar). - Todo o acto humano é, ao mesmo tempo, totalmente biológico e totalmente cultural. Comecemos pelo primeiro ponto: o homem é um ser totalmente biológico. Antes de mais é preciso ver que todos os traços propriamente humanos derivam de traços específicos dos primatas ou dos mamíferos que se desenvolvem e se tornam permanentes. Neste sentido, o homem é um superprimata: traços que eram esporádicos ou provisórios no primata - o bipedismo, a utilização de utensílios e mesmo uma certa forma de curiosidade, de inteligência, de consciência de si - tornaram-se sistemáticos no homem. O mesmo se verifica no domínio da afectividade: o jovem mamífero é um ser ligado à mãe (...) e é nesta forma primitiva que radica o amor e a ternura humana. Os sentimentos de fraternidade e de rivalidade que se encontram nos mamíferos desenvolveram-se também na nossa espécie: o homem tornou-se capaz da maior amizade como da maior hostilidade para com o seu semelhante. (...) Falta mostrar agora que o homem é totalmente cultural. Antes de mais, é preciso recordar que qualquer acto é totalmente culturalizado: comer, dormir e mesmo sorrir ou chorar. Sabemos bem, por exemplo, que o sorriso do japonês não é igual à gargalhada do americano! E a coisa mais espantosa aqui é que os actos que são mais biológicos são precisamente os que são mais culturais: nascer, morrer, casar. (...). A ideia de uma definição biocultural de homem é fundamental e rica de consequências. O processo biocultural é um processo incessantemente recomeçado que, a cada instante, se refaz a nível dos indivíduos e a nível das sociedades. Eu definiria, por isso, o nó górdio da nova antropologia do seguinte modo: o ser humano é totalmente humano porque é, ao mesmo tempo, plena e totalmente vivo e plena e totalmente cultural." Edgar Morin, A Unidade do Homem, Vol.III. Ed. Cutrix. 1 Adaptação, Isabel Valente

Resumos Intermédio 2 Filosofia

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FILOSOFIA

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Page 1: Resumos Intermédio 2 Filosofia

Filosofia 10º anoII. A ACÇÃO HUMANA E OS VALORES

1.2.DETERMINISMOS E LIBERDADE NA ACÇÃO HUMANA

A- Quais as condicionantes da acção humana ?

 Estamos totalmente condicionados nas nossas decisões ? 

Dizer que o homem é um ser biocultural não é simplesmente justapor estes dois termos, mas mostrar que eles se co-produzem e que desembocam nesta dupla proposição:

- Todo o acto humano é biocultural (comer, dormir, defecar, acasalar, cantar, dançar, pensar ou meditar).

- Todo o acto humano é, ao mesmo tempo, totalmente biológico e totalmente cultural.

Comecemos pelo primeiro ponto: o homem é um ser totalmente biológico. Antes de mais é preciso ver que todos os traços propriamente humanos derivam de traços específicos dos primatas ou dos mamíferos que se desenvolvem e se tornam permanentes. Neste sentido, o homem é um superprimata: traços que eram esporádicos ou provisórios no primata - o bipedismo, a utilização de utensílios e mesmo uma certa forma de curiosidade, de inteligência, de consciência de si - tornaram-se sistemáticos no homem. O mesmo se verifica no domínio da afectividade: o jovem mamífero é um ser ligado à mãe (...) e é nesta forma primitiva que radica o amor e a ternura humana. Os sentimentos de fraternidade e de rivalidade que se encontram nos mamíferos desenvolveram-se também na nossa espécie: o homem tornou-se capaz da maior amizade como da maior hostilidade para com o seu semelhante. (...)

Falta mostrar agora que o homem é totalmente cultural. Antes de mais, é preciso recordar que qualquer acto é totalmente culturalizado: comer, dormir e mesmo sorrir ou chorar. Sabemos bem, por exemplo, que o sorriso do japonês não é igual à gargalhada do americano! E a coisa mais espantosa aqui é que os actos que são mais biológicos são precisamente os que são mais culturais: nascer, morrer, casar. (...). 

A ideia de uma definição biocultural de homem é fundamental e rica de consequências. O processo biocultural é um processo incessantemente recomeçado que, a cada instante, se refaz a nível dos indivíduos e a nível das sociedades. Eu definiria, por isso, o nó górdio da nova antropologia do seguinte modo: o ser humano é totalmente humano porque é, ao mesmo tempo, plena e totalmente vivo e plena e totalmente cultural."

Edgar Morin, A Unidade do Homem, Vol.III. Ed. Cutrix.      

1 Adaptação, Isabel Valente

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Filosofia 10º anoCONDICIONANTES DA ACÇÃO HUMANA

1.As nossas decisões são sempre condicionadas.

A existência destas condicionantes pode ser constata quando observamos a semelhança de certos comportamentos entre os seres humanos e algumas espécies de animais, ou quando comparamos os indivíduos de diferentes épocas, culturas, condições sociais, etc. As semelhanças e diferenças de comportamento que observamos são em grande medida explicáveis pelos factores que condicionam a acção dos indivíduos do mesmo grupo ou espécie.  

Inúmeros factores de natureza biológica, histórica, social, cultural e outros que influenciam de forma mais ou menos evidente o nosso comportamento e as nossas decisões. 

2.Condicionantes Orgânicas

O corpo situa o homem na natureza como um ser fisico-biológico, sofrendo em virtude deste facto todo o tipo de influências físicas. 

Toda a acção humana é, em geral, condicionada pelos mecanismos fisiológicos do nosso sistema nervoso, glandular, etc. O nosso organismo fornece-nos a energia psicossomática necessária para agirmos, mas também determina a forma como agimos e reagimos aos estímulos do mundo exterior. Estes determinismos biológicos embora não controlem totalmente o comportamento humano, não deixam de impor certas predisposições para a acção, nomeadamente quando se trata de acções decorrentes de motivações básicas: sobrevivência, auto-conservação, procura do prazer ou a fuga à dor.

3.Condicionantes Culturais

Quando comparamos os seres humanos com os outros seres, aquilo que desde logo se destaca é a sua enorme capacidade de adaptação às mais diversas situações, seja modificando o comportamento, seja alterando o próprio meio. Nesta adaptação a enorme capacidade de aprendizagem humana desempenha em todo o processo uma função essencial.

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Page 3: Resumos Intermédio 2 Filosofia

Filosofia 10º anoÉ característico da natureza humana a sua capacidade de integração  às mais variadas sociedades e grupos sociais, onde adopta desde nascença as suas normas, valores e comportamentos específicos. É por esta forma que os seres humanos se diferenciam entre si, condicionados pelos padrões culturais que encontram quando nascem. 

4.Determinismos e Liberdade

Baseados na existência de uma enorme multiplicidade de factores condicionantes da acção humana, alguns filósofos negaram a existência da liberdade humana. As As nossas acções são sempre determinadas por causas que nos transcendem e sobre as quais não temos qualquer poder. A liberdade é pois uma ilusão. Não sou eu que escolho, mas um conjunto de circunstâncias que escolhem por mim. 

Apesar de reconhecermos todas estas influências, temos igualmente que admitir que o homem possui sempre alguma margem de liberdade nas suas acções. Não podemos pois falar de actos mecânicos de resposta a estímulos, mas de acções livres. As suas decisões implicam quase sempre escolhas entre uma multiplicidade de opções possíveis. 

As nossas  decisões são pois  indissociáveis da nossa liberdade, assim como da responsabilidade moral ou jurídica das suas consequências.

B-Que articulação podemos estabelecer entre liberdade e responsabilidade ?

Não é por acaso que os pensadores de hoje falam mais facilmente da condição do homem que da sua natureza. Por condição entendem mais ou menos distintamente o conjunto dos limites "a priori" que esboçam a sua situação fundamental no universo. As situações históricas variam: o homem pode nascer escravo numa sociedade pagã ou senhor feudal ou proletário. Mas o que não varia é a necessidade para ele de estar no mundo, de lutar, de viver com os outros de ser mortal. 

Os limites não são nem subjectivos nem objectivos, têm antes uma face objectiva e uma face subjectiva.

Objectivos. porque tais limites se encontram em todo o lado e em todo o lado são reconhecíveis; subjectivos, porque são vividos e nada são se o homem os não deixar viver, quer dizer, se o homem não se determina livremente na sua existência em relação a eles.",

Jean-Paul Sartre, O Existencialismo é um Humanismo, p.216-217.  

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Filosofia 10º ano

LIBERDADE, CONSCIÊNCIA E RESPONSABILIDADE

1. Conceito de Liberdade

Apesar de todos os condicionamentos, o homem é um ser livre, pois em última instância é sempre ele que decide agir ou não.

-. Sendo livre pode decidir ajustar-se ou não às regras sociais que encontra. Pode realizar ou não actos que constituem verdadeiras rupturas com os condicionalismos e as solicitações externas ou internas (Liberdade de).

-Sendo livre toma decisões que têm como objectivo responder à sua necessidade de realização pessoal, em conformidade com o seu próprio projecto de vida (Liberdade para).

Mas o que se entende por liberdade? - Designa a capacidade que todo o homem possui de actuar segundo a sua própria decisão.

2.Pressupostos da Liberdade

A liberdade implica:

-Autonomia do sujeito face às suas condicionantes. Embora o homem esteja sempre condicionado por factores externos e internos, para que uma acção possa ser considerada livre é necessário que ele seja a causa do seus actos, isto é, que tenha uma conduta livre. 

-Consciência da acção. A acção humana é a manifestação de uma vontade livre e portanto consciente do seus actos. Este pressuposto implica que o sujeito não ignore a intenção, os motivos e as circunstâncias, assim como as consequencias da  da própria acção. Pressuposto que está todavia longe de estar sempre satisfeito.

-Escolhas fundamentada em valores. A acção implica sempre a manifestação de certas preferências, implicando o homem nessa escolha. Nem sempre contudo, esta dimensão da liberdade é consciente, embora seja sempre materializada na própria acção.

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Filosofia 10º ano3.Formas de Liberdade

- Liberdade interior: autonomia face a si mesmo (Liberdade psicológica) e de agir segundo valores livremente escolhidos (Liberdade Moral)

- Liberdade Exterior: autonomia face à sociedade (Liberdade sociológica) e de exercer os direitos básicos de qualquer cidadão (Liberdade Política).

4. Responsabilidade

A liberdade é inseparável da responsabilidade, pois aquele que reconhece como suas determinadas decisões, tem que igualmente reconhecer e assumir as consequências e os efeitos das mesmas. Este será uma assunto que desenvolvermos em detalhe quando abordarmos, em detalhe, a dimensão ética do agir.

5. Individualização

Embora o homem não seja livre de escolher  o que lhe acontece, é todavia livre de responder desta ou daquela forma ao que lhe acontece (F. Salvater).

É nestas escolhas que o homem faz que define a sua individualidade, personalidade. As opções que tomamos ao longo da vida é que nos diferenciam. É por elas que somos julgados e avaliados nas nossas condutas. Aquilo que somos manifesta-se portanto naquilo que fazemos. 

O PROBLEMA DO LIVRE-ARBÍTRIO

O QUE SIGNIFICA PODER ESCOLHER?

Determinismo e liberdade na acção humana

A vida oferece-nos diferentes possibilidades/escolhas

O vídeo da pepsi apresenta um vasto conjunto de possibilidades de escolha de um agente e conforme a alteração dessa escolha segue-se um diferente curso da sua vida, diferentes oportunidades, acontecimentos, etc.

Ao que parece nós comandamos a nossa vida, fazemos o que queremos quando queremos e escolhemos entre os diversos caminhos sem qualquer condicionante ou determinação.

É importante focar que escolher é sempre entre o   entre o sim e o sim. Optar por não seguir nenhum caminho é uma escolha.

O LIVRE-ARBÍTRIO (AUTO-DETERMINAÇÃO) é, assim, a liberdade ou poder de escolha, i. e., a capacidade de agir (deliberar) em liberdade. As escolhas do homem dependem unicamente dele pois é nele que se encontra a sua própria causa.

O problema do livre-arbítrio, um dos mais antigos e intratáveis da filosofia, começa com uma certa inadequação terminológica. A expressão portuguesa "livre-arbítrio",

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Filosofia 10º anoassim como a expressão "liberdade da vontade", que é tradução do inglês "freedom of the will", são enganosas, pois nem o juízo nem a vontade são os factores preponderantes. Menos comprometida seria a expressão "liberdade de decisão" ou "liberdade de escolha" ou, melhor ainda (posto que mais abrangente), "liberdade de acção".

Feita essa advertência terminológica, passemos à exposição do problema. Ele diz respeito ao conflito existente entre a liberdade que temos ao agir e o determinismo causal. Podemos introduzi-lo considerando as três proposições seguintes:

1. Todo o evento é causado.

2. As nossas acções são livres.

3. Acções livres não são causadas.

A proposição 1 parece geralmente verdadeira: cremos que no mundo em que vivemos para todo evento deve haver uma causa. A proposição 2 também parece verdadeira: quando nos observamos a nós mesmos, parece óbvio que as nossas decisões e acções são frequentemente livres. Também a proposição 3 parece verdadeira: se as nossas acções fossem causalmente determinadas, elas não poderiam ser livres.

O problema do livre-arbítrio surge quando percebemos que as três proposições acima formam um conjunto inconsistente, ou seja: não é possível que todas elas sejam verdadeiras! Se admitimos que todo evento é causado e que a acção livre não é causalmente determinada (que as proposições 1 e 3 são verdadeiras), então não somos livres, posto que as nossas acções são eventos (a proposição 2 é falsa). Se admitimos que as nossas acções são livres e que como tais elas não são causalmente determinadas (que 2 e 3 são proposições verdadeiras), então não é verdade que todo o evento seja causado (a proposição 1 é fa1sa). E se admitimos que todo o evento é causado e que somos livres (que as proposições 1 e 2 são verdadeiras), então deve haver a1go de errado com a ideia de liberdade expressa na proposição 3.

Cada uma dessas alternativas possui um nome e foi classicamente defendida. A primeira delas é chamada de determinismo; ela consiste em negar a verdade da proposição 2, ou seja, que somos realmente livres. Ela foi mantida por filósofos como Espinosa, Schopenhauer e Henri d'Holbach. A segunda alternativa chama-se libertismo: ela não tem problemas em admitir que o mundo ao nosso redor é causalmente determinado, mas abre uma excepção para muitas de nossas decisões e acções, que sendo livres escapam à determinação causal. Com isso o libertismo rejeita a validade universal do determinismo expressa pela proposição 1. Essa é a posição de Agostinho, Kant e Fichte. Finalmente há o compatibilismo, que tenta mostrar que a liberdade de

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Filosofia 10º anoação é perfeitamente compatível com o determinismo, rejeitando a ídéia de liberdade expressa na proposição 3. Historicamente, Hobbes, Hume e Mill foram famosos defensores do compatibilismo. No que se segue, quero considerar isoladamente cada uma dessas soluções, argumentando finalmente a favor do compatibilismo.

1. DETERMINISMO

O determinismo parte da consideração de que, da mesma forma que podemos sempre encontrar causas para os eventos físicos que nos cercam, podemos sempre encontrar causas para as nossas acções, sejam elas quais forem. Com efeito, sendo como somos produtos de um processo de evolução natural, seria surpreendente se as nossas acções não fossem causadas do mesmo modo que o são outros eventos biológicos, tais como a migração dos pássaros e o fototropismo das plantas. Mesmo que o princípio da causalidade não seja garantido e que no mundo da microfísica ele tenha sido inclusive colocado em dúvida, no mundo humano, constituído pelas nossas acções, pensamentos, decisões, vontades, esse princípio parece manter-se plenamente aceitável. De facto, admitimos que as decisões ou acções humanas são causadas. Alguns poderão dizer que Napoleão invadiu a Rússia por livre decisão da sua vontade. Mas os historiadores consideram parte do seu ofício encontrar as causas, procurando esclarecer as motivações e circunstâncias que o induziram a tomar essa funesta decisão. Na determinação das nossas acções, as causas imediatas podem ser externas (alguém decide parar o carro diante de um sinal vermelho) ou internas (alguém resolve tomar um refrigerante), sendo geralmente múltiplas e por vezes muito difíceis de serem rastreadas. No entanto, teorias biológicas e psicológicas (especialmente. a psicanálise) sugerem que as nossas acções são sempre causadas; "Fiz isso sem nenhuma razão" raramente é aceite como desculpa.

Com base em considerações como essas, a conclusão do filósofo determinista é a de que o livre-arbítrio na verdade não existe, posto que se a acção fosse realmente livre ela não seria determinada por outros factores independentes dela mesma. A liberdade que parecemos ter ao tomarmos as nossas decisões é pura ilusão, produzida por uma insuficiente consciência das suas causas. Mesmo quando pensamos que poderíamos ter agido de outro modo, o que queremos dizer não é que éramos realmente livres para agir de outro modo, mas simplesmente que teríamos agido de outro modo se o sentimento mais forte tivesse sido outro, se soubéssemos aquilo que agora sabemos etc. O argumento a favor do determinismo pode ser assim esquematizado:

1. Todo o evento é causado.

2. As acções humanas são eventos.

3. Portanto, todas as acções humanas são causadas.

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Filosofia 10º ano4. As acções humanas só são livres quando não são causadas.

5. Portanto, as acções humanas não são livres.

A posição determinista encontra, porém, dificuldades. Não é só o sentimento de que somos livres que perde a validade. Também o sentimento de arrependimento ou remorso parece perder o sentido, pois como se justifica que nós possamos arrepender-nos das nossas acções, se não fomos livres para escolhê-las? Também a responsabilidade moral perde a validade. Se nas nossas acções somos tão determinados como uma pedra que cai ao ser solta no ar, faz tão pouco sentido responsabilizar uma pessoa pelos seus actos quanto faz sentido responsabilizar a pedra por ter caído. Tais dificuldades levam-nos a considerar a posição oposta.

2. LIBERTISMO

O libertista rejeita o determinismo por considerar as conclusões acima inaceitáveis. Ele também rejeita a primeira premissa do argumento determinista. O princípio da causalidade, enunciável como "Todo o evento tem uma causa", não parece ter a sua validade universal garantida. Certamente, esse princípio é extremamente útil, valendo em geral para o mundo que nos circunda e mesmo para muitas de nossas acções. Mas nada nele garante que a sua validade seja universal. Não podemos pensar que A = ~A ou que 1 + 1 = 3, mas podemos perfeitamente conceber um evento no universo surgindo sem nenhuma causa. A isso o libertarista poderá adicionar que nós simplesmente sabemos que somos livres. Há uma grande diferença entre um comportamento reflexo e um comportamento resultante da decisão da vontade. Nós sentimos que no último caso somos livres, que podemos decidir sempre de outro modo.

Para justificar essa posição, o libertista costuma lançar mão de uma teoria da acção, tal como foi defendida por Richard Taylor ou por Roderick Chisholm. Segundo essa teoria às vezes, ao menos, o agente causa os seus actos sem qualquer mudança essencial em si mesmo, não necessitando de condições antecedentes que sejam suficientes para justificar a acção. Isso acontece porque o eu é uma entidade peculiar, capaz de iniciar uma acção sem ser causado por condições antecedentes suficientes! Você poderá perguntar-se como isso é possível. A resposta geralmente oferecida é que não pode haver explicação. Para responder a uma pergunta como essa teríamos de interrogar o próprio eu, considerando-o objectivamente. Mas, como quem deve considerar objectivamente o eu só pode ser aqui o próprio eu, isso é impossível. Tentar interrogar o próprio eu é tentar, como o barão de Münchausen, alçar-se sobre si mesmo pondo os pés sobre a própria cabeça. O eu da teoria da acção é um eu esquivo [...]. Ele é um eu autodeterminador, capaz de iniciar acções sem ser causado. Somos, quando agimos,

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Filosofia 10º anosemelhantes ao deus aristotélico: somos causas não causadas, motores imóveis. O argumento que conduz à teoria da acção tem a forma:

1. Não é certo que todo o evento é causado.2. Sabemos que as nossas acções são frequentemente livres.3. As acções humanas livres não podem ser causadas.4. Portanto, a acção humana não precisa de ser causada.

Embora essa solução preserve a noção de livre agência, ela tem o inconveniente de explicar o obscuro pelo que é mais obscuro ainda, qeu é um mistério a ser aceite sem questionamento. A pergunta que permanece é se não há uma solução mais satisfatória. A solução que veremos a seguir, o compatibilismo, é hoje a mais aceite, sendo uma maneira de tentar preservar as vantagens das outras duas sem as correspondentes desvantagens.

3. COMPATIBILISMO: DEFINIÇÕES

Segundo o compatibilismo, também chamado de determinismo moderado ou reconciliatório, nós permanecemos livres e responsáveis, mesmo sendo causalmente determinados nas nossas ações. O raciocínio que conduz ao compatibilismo tem a forma:

1. Todo o evento é causado.2. As acções humanas são eventos.3. Portanto, todas as ações humanas são causadas.4. Sabemos que as nossas acções são às vezes livres.5. Portanto, as acções livres são causadas.

Um bom exemplo de argumento em defesa do compatibilismo é o de Walter Stace, para quem nós confundimos o significado da noção de liberdade na sua conexão com o determinismo. Segundo Stace, o determinista acredita que a liberdade da vontade é o mesmo que a capacidade de produzir acções sem que elas sejam determinadas por causas. Mas isso é falso. Se assim fosse, uma pessoa que se comportasse arbitrariamente, mesmo que contra a sua própria vontade, seria um exemplo de pessoa livre. Mas o comportamento arbitrário não é visto como um comportamento livre. A diferença entre a vontade livre e a vontade não-livre não deve residir, pois, no facto de a segunda ser causalmente determinada e a primeira não. Além disso, tanto no caso de acções livres como no caso de acções não-livres, nós costlumamos encontrar determinações causais, como mostram os seguintes exemplos, os três primeiros tomados do texto de Stace:

A. Actos livres B. Actos não-livres

9 Adaptação, Isabel Valente

Page 10: Resumos Intermédio 2 Filosofia

Filosofia 10º ano1. Gandi passa fome porque quer libertar a Índia.

Um homem passa fome num deserto porque não há comida.

2. Uma pessoa rouba um pão porque está com fome.

Uma pessoa rouba porque o seu patrão a obrigou.

3. Uma pessoa assina uma confissão porque quer dizer a verdade.

Uma pessoa assina uma confissão porque foi submetida a tortura.

4. Uma pessoa decide abrir uma garrafa de champanhe porque quer brindar ao Ano Novo.

Uma pessoa toma uma dose de aguardente, mesmo contra a sua vontade, porque é alcoólica.

Note-se que a palavra "porque", que denota causalidade, é comum a ambas as colunas. Assim, a coluna A não difere da coluna B pelo facto de não podermos encontrar causas das acções, decisões e volições dos agentes. E às causas apresentadas podemos adicionar ainda outras, como razões psicológicas e biográficas de Gandi, o costume de brindar ao Ano Novo abrindo uma garrafa de champanhe etc. Mesmo nos casos de decisões arbitrárias (como quando alguém decide lançar uma moeda no ar para que a sorte decida o que deve fazer), a decisão de escolher arbitrariamente também possui alguma causa.

A diferença notada por Stace entre as acções livres da coluna A e as não-livres da coluna B é que as primeiras são voluntárias, enquanto as segundas não. Daí que ele defina a diferença entre a vontade livre e não-livre como residindo no facto de que as acções derivadas da vontade livre são voluntárias, enquanto as ações derivadas da vontade não-livre são involuntárias, no sentido de se oporem à nossa vontade ou de serem independentes dela. Se Gandi passa fome para libertar a Índia, se alguém rouba um pão por estar com fome, essas são acções livres, posto que voluntárias; mas se uma pessoa assina uma confissão sob tortura ou toma uma dose de aguardente contra a sua vontade, essas são acções que se opõem à vontade dos agentes, por isso mesmo não são livres.

Embora a explicação de Stace seja geralmente bem-sucedida, ela não se aplica satisfatoriamente a alguns casos. Considere os seguintes:

A. Actos livres B. Actos não-livres

5. Uma pessoa abre a janela porque faz calor.

Uma pessoa abre a janela por efeito de sugestão pós-hipnótica.

10 Adaptação, Isabel Valente

Page 11: Resumos Intermédio 2 Filosofia

Filosofia 10º ano6. Um membro de uma equipa de cinema explode uma bomba para efeitos de filmagem.

Um psicopata explode uma bomba porque ouve vozes que o convenceram a realizar essa ação.

No exemplo B-5 a pessoa abre a janela porque o hipnotizador lhe disse que meia hora após ser acordada da hipnose deveria abrir a janela, sem se lembrar de que faz isso por decisão do hipnotizador (curiosamente, se interrogada, a pessoa submetida a esse tipo de experiência costuma fornecer uma razão qualquer, como a de que está sentindo calor). Nesse caso a pessoa realiza a acção voluntariamente, pensando que o faz por livre e espontânea vontade, embora na verdade o faça seguindo a instruçãode quem a hipnotizou. No exemplo B-6, o psicopata também age voluntariamente, e o mesmo poderíamos dizer de casos de fanáticos, de neuróticos e, em geral, de pessoas presas a valores e padrões de conduta excessivamente rígidos, que sofrem por isso limitações na capacidade de livre deliberação, apesar de agirem voluntariamente.

A acção livre deve aproximar-se de um ideal de racionalidade plena, o que aqui está longe de ser o caso.

Na minha opinião a diferença mais importante entre os casos apresentados, nas colunas A e B é que em B, em que a acção não é livre, o agente age sob restrição, coerção ou limitação externa (exemplos 1, 2, 3 e 5) ou interna (exemplos 4 e 6), enquanto nos casos da coluna A, em que a ação é livre, o agente age motivado por razões não-limitadoras ou "plenas". É diflcil explicar o que sejam razões não-limitadoras, mas a idéia é intuitiva: considere a diferença entre as razões de Gandi e as razões de quem age por sugestão pós-hipnótica, por força de um delírio psicótico ou de uma crença fanática; mesmo não-admiradores de Gandi admitiriam que as suas razões são comparativamente menos limitadoras, menos restritivas, mais legítimas. Admitindo essa distinção de grau entre razões limitadoras e não-limitadoras, chegamos a uma definição inerentemente negativa da acção livre, que é mais abrangente do que a de Stace:

A acção livre é aquela em que o agente não é restringido fisicamente, nem coagido na sua vontade, nem limitado na sua racionalidade ao realizá-la.

[...]

Perguntas de compreensão do texto:

1. Explique o problema do livre-arbítrio.2. Explique a posição dos deterministas.

11 Adaptação, Isabel Valente

Page 12: Resumos Intermédio 2 Filosofia

Filosofia 10º ano3. Explique a posição dos libertistas.4. Explique a posição dos compatibilistas.5. Apresente uma razão invocada pelos deterministas a favor da sua posição.6. Apresente uma objecção ao determinismo.7. Apresente uma razão invocada pelos libertistas a favor da sua posição.8. Apresente uma objecção ao libertismo.9. Apresente uma razão invocada pelos compatibilistas a favor da sua posição.10. Dê, de acordo com os compatibilistas, um exemplo seu de um acto livre e outro

de um acto não-livre.11. Por que razão um dos actos referidos na resposta anterior é livre e o outro não?

II. OS VALORES -ANÁLISE E COMPREENSÃO DA EXPERIÊNCIA VALORATIVA

2.1.VALORES E VALORAÇÃO- A QUESTÃO DOS CRITÉRIOS VALORATIVOS

O que são valores?

O que distingue um "Facto" de um "Valor"?

12 Adaptação, Isabel Valente

Page 13: Resumos Intermédio 2 Filosofia

Filosofia 10º ano

O homem vive, toma partido, crê numa multiplicidade de valores, hierarquiza-os e dá assim sentido à sua existência mediante opções que ultrapassam incessantemente as fronteiras do seu conhecimento efectivo. No homem que pensa, esta questão só pode ser raciocinada, no sentido  em que, para fazer a síntese entre aquilo que ele crê e aquilo que ele sabe, ele só pode utilizar uma reflexão, quer prolongando o saber, quer opondo-se a ele num esforço crítico para determinar as suas fronteiras actuais e legitimar a hierarquização dos valores que o ultrapassam. Esta síntese raciocinada entre as crenças, quaisquer que elas sejam, e as condições do saber, constituí aquilo que nós chamamos uma "sabedoria"  e é este que nos parece ser o objecto da filosofia.

Jean Piaget, Sageza e Ilusão da Filosofia

1. Quando decidimos fazer algo, estamos a realizar uma escolha. Manifestamos certas preferências por umas coisas em vez de outras. Evocamos então certos motivos para justificar as nossas decisões. 

2.   Factos e valores

Todos estes motivos podem ser apoiados em factos, mas têm sempre implícitos certos valores que justificam ou legitimam as nossas preferências.  

Exemplo: O dia 18 de Fevereiro de 2001 foi o dia mais importante da semana, era um domingo. 

Facto: O dia 18 de Fevereiro de 2001 foi efectivamente um domingo.

Valor implícito: O domingo como o dia mais importante entre os dias da semana

3 . Facto

13 Adaptação, Isabel Valente

Page 14: Resumos Intermédio 2 Filosofia

Filosofia 10º anoUm facto é algo que algo que pode ser comprovado, sobre o qual podemos dizer que a afirmação é verdadeira ou falsa. Os factos são igualmente susceptíveis de gerarem consensos universais.

4. Valor

Podemos definir os valores partindo das várias dimensões em que usamos:

        a) os valores são critérios segundo os quais valorizamos ou desvalorizamos as coisas;

       b) Os valores são as razões que justificam ou motivam as nossas acções, tornando-as preferíveis a outras.

Os valores reportam-se, em geral, sempre a acções, justificam-nas.

Exemplo: Participar numa manifestação a favor do povo timorense, pode significar que atribuímos à Solidariedade  uma enorme importância. A solidariedade é neste caso o valor que justifica ou explica a nossa acção.

Ao contrário dos factos, os valores apenas implicam a adesão de grupos restritos. Nem todos possuímos os mesmos valores, nem valorizamos as coisas da mesma forma.

5.Tipos de valores

 Os valores não são coisas nem simples ideias que adquirimos, mas conceitos que traduzem as nossas preferências. Existe uma enorme diversidade de valores, podemos agrupá-los quanto à sua natureza da seguinte forma:

Valores éticos: os que se referem às normas ou critérios de conduta que afectam todas as áreas da nossa actividade. Exemplos: Solidariedade, Honestidade, Verdade, Lealdade, Bondade, Altruísmo...

Valores estéticos: os valores de expressão. Exemplo: Harmonia, Belo, Feio, Sublime, Trágico. 

Valores religiosos: os que dizem respeito à relação do homem com a transcendência. Exemplos: Sagrado, Pureza,  Santidade,  Perfeição.

Valores políticos: Justiça, Igualdade, Imparcialidade,  Cidadania, Liberdade.

Valores vitais: Saúde, Força.  

6.Hierarquização dos Valores

 Não atribuímos a todos os nossos valores a mesma importância. Na hora de tomar uma decisão, cada um de nós, hierarquiza os valores de forma muito diversa. A hierarquização é a propriedade que tem os valores de se subordinarem uns aos outros, isto é, de serem uns mais valiosos que outros. As razões porque o fazemos são múltiplas.

14 Adaptação, Isabel Valente

Page 15: Resumos Intermédio 2 Filosofia

Filosofia 10º anoExemplo:

A maioria da população mundial continua a passar graves carências alimentares. Todos os anos morrem milhões de pessoas por subnutrição. Não é de querer que hierarquia dos seus valores destas pessoas a satisfação das suas necessidades biológicas não esteja logo em primeiro lugar.

7.Polaridade dos Valores

Os nossos valores tendem a organizar-se em termos de oposições ou polaridades. Preferimos e opomos a Verdade à Mentira, a Justiça à Injustiça, o Bem ao Mal, a beleza à fealdade, a generosidade à mesquinhes. A palavra valor costuma apenas ser aplicada num sentido positivo. Embora o valor seja tudo aquilo sobre o qual recaia o acto de estima positiva ou negativamente. Valor é tanto o Bem, como o Mal, o Justo como  Injusto.

OBJECTIVIDADE OU SUBJECTIVIDADE DOS VALORES

O que defendem as duas principais correntes filosóficas sobre a natureza  dos valores?

Aos olhos do sociólogo, os únicos valores reais são sempre os de uma sociedade particular; são os ideais que uma colectividade escolhe para si e a que adere. Os valores são pois sempre específicos duma dada sociedade: são-no também de um tempo histórico, porquanto variam não só no tempo como de uma sociedade para outra.

Guy Rocher, Sociologia Geral, I Vol.

Os valores valem por si mesmos, independente das relações que os homens possam manter com eles? O mesmo é dizer são absolutos, intemporais e incondicionados? Ou pelo contrário, todos os valores são sempre relativos, historicamente determinados? Sobre esta questão existem duas posições essenciais, a dos que defendem a subjectividade dos valores e a dos que defendem a sua objectividade.

Subjectividade dos valores: Ao longo da história da filosofia muitas correntes têm defendido esta posição. Os sofistas afirmavam, por exemplo, que a verdade ou a moral não passavam de convenções que variavam de sociedade para sociedade, de indivíduo para indivíduo. F. Nietzsche afirma que a natureza carecia de valores e somos nós que lhos damos. J.P. Sartre, ao defender a liberdade humana proclama que cabe ao homem a tarefa de inventar os seus próprios valores.

Esta concepção assenta na constatação empírica que ao longo dos tempos os valores estão sempre a mudar. O ideal de beleza numa época, por exemplo, torna-se num na expressão do mau gosto noutro período histórico.  

Objectividade dos valores: A maioria das religiões defende esta posição. Os cristãos, por exemplo, apoiados no Novo Testamento declaram que certos valores como o amor ao próximo e as normas morais são absolutos, isto é, não dependem das sociedades

15 Adaptação, Isabel Valente

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Filosofia 10º anonem dos indivíduos, uma vez que correspondem à vontade divina. Na filosofia encontramos a mesma posição em filosófos como Platão. Este considera que o belo, o bem e o justo existem idealmente como entidades imutáveis e incondicionadas. Mais recentemente, a objectividade dos valores foi defendida por filósofos como Max Scheler e Nicolay Hartmann.

Esta concepção assenta na convicção que em todas as épocas históricas ou culturas sempre existiram pessoas que tomaram um conjunto de valores, como o Bem, Belo ou a Justiça como ideais a atingir, não os identificando todavia com nada de concreto ou circunstancial. Não os sabendo definir com rigor, sabem todavia muito bem aquilo que não são.

VALORES E CONSENSOS MUNDIAIS

Quais as limitações da concepções objectivas e subjectivas dos valores?  

Qual a necessidade de valores universais?

Baseados em que valores condenamos as guerras? os genocídios? as manipulações genéticas? os atentados contra o ambiente? as perseguições de minorias étnicas ou religiosas?  

"De tudo quanto se disse antes (sobre os valores) podemos sintetizar numa definição.

1)Não existem valores em si, como entes ideais ou reais, mas objectos reais (ou bens) que possuem valor.

2)Uma vez que os valores não constituem um mundo de objectos que exista independentemente do mundo dos objectos reais, só se dão na realidade - natural e humana- como propriedades valiosas desta realidade. 

3)Os valores requerem, por conseguinte - como condição necessária-, a existência de certas propriedades reais - naturais ou físicas - que constituem o suporte necessário das propriedades que consideramos valiosas.

4)As propriedades reais sustentam o valor, e sem as quais não se daria este, só são valiosas potencialmente. Para se actualizarem e se converterem em propriedades valiosas efectivas, é indispensável que o objecto se encontre em relação com o homem social, com os seus interesses ou necessidades. Deste modo, o que só vale potencialmente adquire um valor efectivo.

Assim, pois, o valor não possuem os objectos por si, mas adquirem-no graças à sua relação com o Homem como ser social. Mas os objectos, por sua vez, só podem ser valiosos quando estão dotados efectivamente de certas propriedades objectivas".

A. Sánchez Vásquez, Ética  

1. A oposição "valores objectivos"/ "valores subjectivos" ao dicotomizar a questão dos valores,  tende a secundarizar o papel desempenhado por movimentos sociais,

16 Adaptação, Isabel Valente

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Filosofia 10º anopolíticos e filosóficos ao longo da história na sua selecção e consagração num contexto mundial. 

2. A   Declaração Universal dos Direitos do Homem , aprovada pela ONU, em 1948, consagrou no plano mundial um conjunto de valores que reputados de essenciais, não apenas para servirem de ideal à acção humana, mas também para definirem o enquadramento legal dentro do qual os Estados podem legislar, julgar e actuar. 

3.Estes valores são assumidos como universais. Neste sentido, apesar da diversidade das culturas e das sociedades, esta diversidade não pode ir contra estes valores. A Declaração serve não apenas para julgar os actos humanos (plano ético), mas também para avaliar e julgar a acção do diferentes Estados em relação aos seus cidadãos, configurando também um modelo de uma sociedade global livre e democrática. 

4. Entre os valores da Declaração destacamos os seguintes:

- A Pessoa como um valor em si

- A Dignidade Humana

- A Liberdade

- A Igualdade

- A Fraternidade

5. A necessidade destes "valores universais", fez-se particularmente sentir desde o século XVI. A crescente mundialização e interdependências das sociedades humanas tornou imperioso que fosse encontrado um conjunto de referências que, numa escala mundial, fossem capazes de proteger os seres humanos dos abusos daqueles que detém o poder ou dos que estão numa posição de superioridade em relação a outros. 

No século XVII, Jonh Locke (ver) defendeu um conjunto de direitos naturais que deveriam ser garantidos a todos os homens. Estes direitos pressupunham um conjunto de valores assumidos como universais como a Liberdade, a Igualdade, a Tolerância ou a Dignidade.

No século XVIII deram-se passos fundamentais na consagração destes valores. A filosofia das luzes propôs-se fundar o direito na razão universal, anunciando o aparecimento de uma cultura jurídica laica e universal.

O filósofo E. Kant uma perspectiva filosófica proclamou a pessoa humana como um valor absoluto. Este valor acabou por tornar-se no elemento central em torno do qual se passaram a desenvolver todos os valores, normas e leis que reputamos de universais.  

Este valor está consagrado em dois documentos onde se proclama a dignidade e igualdade de todos os seres humanos:  

17 Adaptação, Isabel Valente

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Filosofia 10º anoA Declaração de Independência dos EUA (1776) onde se afirmam um conjunto de

"direitos inalienáveis" de todo o ser humano; 

A Declaração do Direitos do Homem e do Cidadão (26/8/1793) proclamada na Assembleia constituinte francesa.  

Apesar de todos os progressos materiais, no século XX, a humanidade pareceu caminhar rapidamente para a sua auto-destruição, que se saldou em cerca de 191 milhões de mortos em conflitos armados, dois dos quais à escala mundial.

Contra a lei da força que por todo o lado imperava foi reclamado um conjunto de direitos que protegessem os cidadãos de Estados opressores e expansionistas, mas também se reclamou a necessidade de se adoptarem novos valores para construir uma nova ordem mundial. Foi também durante este século que a revolta dos povos colonizados ou de minorias vítimas de discriminações nos seus próprios países mais se fez sentir. É neste contexto histórico, marcado por guerras, genocídios, massacres e lutas de libertação que acabou por ser aprovado na ONU a citada Declaração Universal dos Direitos do Homem.    

6. Face à enorme interdependência das nossas sociedades, esta Declaração é hoje uma referência fundamental para estabelecer as bases de um diálogo pacífico entre os povos assente em valores comuns.   

7.Análise dos valores que estão subjacentes à   Declaração Universal dos Direitos do Homem .

OS VALORES DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM

Quais os valores fundamentais da Declaração Universal dos Direitos do Homem?

O homem, e, duma maneira geral, todo o ser racional, existe como fim em si mesmo, não só como meio  para uso arbitrário desta ou daquela vontade. Pelo contrário, em todas as suas acções, tanto nas que se dirigem a ele mesmo como como nas que se dirigem a outros seres racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como fim. ". E. Kant, Fundamentação Metafísica dos Costumes.  

1. A Declaração da ONU, datada de 1948, representa a consagração de um conjunto de valores que levaram séculos a elaborar e a obter um consenso alargado a nível mundial. 

Estes valores fundamentam hoje um conjunto de direitos que são reconhecidos a todos o seres humanos, independentemente da sua raça, nacionalidade, religião, sexo, idade ou condição social.  

Apesar de ser reconhecido o direito à diferença a cada estado, as diferenças nas suas legislações internas não podem contudo contrariar o que está  consignado na Declaração. 

18 Adaptação, Isabel Valente

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Filosofia 10º anoTodos os Estados do mundo são obrigados tê-los em conta, e não apenas aqueles que até ao momento tenham subscrito esta Declaração. É com base nos valores nela consagrados que avaliamos a sua actuação quer no plano interno, quer no plano internacional. 

Vejamos 5 valores dos principais valores que estão presentes ao longo de toda a Declaração:

  A "Pessoa". Este valor é relativamente recente no pensamento ocidental. Foi E. Kant o primeiro filósofo a teorizar este valor absoluto. Ao longo dos séculos muitos foram aqueles que se opunha a que o Outro fosse considerado uma pessoa. As múltiplas discriminações impediam que tal acontecesse. O escravo, por exemplo, pouco mais era do que um instrumento de trabalho para o seu senhor. A mulher não passava de ser inferior frequentemente ao olhos do homem que a possuía. Este valor implica:

Assumir  que todo o ser humano é distinto das coisas que o rodeiam, dado que tem uma natureza própria, fundamentada numa identidade própria.Cada ser humano é único e irrepetível. É um ser dotado de consciência e liberdade de decisão e como tal deve tratado.

A "Dignidade humana". A dignidade identifica-se para muitos autores com a própria noção de direitos humanos. A dignidade que atribuímos a qualquer outro ser humano decorre do facto de o reconhecermos como igual a nós próprios e, por conseguinte, dele nos suscitar igual respeito pela sua singularidade individual, de não o considerarmos como coisa, como simples meio, como mercadoria. De lhe reconhecermos também a capacidade para definir as suas próprias acções com consciência e com a noção das consequências que os seus actos podem provocar. Este valor desdobra-se nos seguintes direitos:

 a) Integridade moral do ser humano:direito ao bom nome, à imagem, à intimidade, abolição dos maus tratos ou situações degradantes; 

b) Integridade física do ser humano: direito à vida, garantias face à tortura, abusos do Estado, etc. 

A "Liberdade".É um dos valores fundamentais que esteve ligado à modernidade europeia. Este valor desdobra-se numa série de direitos:

       a) Liberdade pessoal: Liberdade em matéria de religião, de política, de residência e circulação, de expressão, de reunião, de manifestação, de associação, de ensino, etc. 

       b) Liberdade civil:garantias jurídicas e penais

       c) Liberdade política: direitos de participação política, de representação política nos vários orgãos de decisão do Estado, etc. 

 A "Igualdade". Este valor desdobra-se numa série de direitos económicos, sociais e culturais que implicam a recusa de todo o tipo de discriminações entre seres humanos.

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Filosofia 10º ano A "Solidariedade". Este valor talvez mais do que nenhum outro coloca em evidência

a interdependência de todos os seres humanos e a necessidade de harmonizarem as suas relações por forma a evitarem ou minorem o sofrimento. Recusa-se desta forma o princípio da força ou do egoísmo como norma nas suas relações. Este valor impele-nos a que assumamos a solidariedade como dever que visa criar, por contrato, uma associação livremente consentida, mútua e solidária entre os homens, que os proteja dos riscos comuns.

A Declaração aponta para uma outra noção extremamente importante, a de que os crimes contra a humanidade são crimes imprescritíveis. Para os julgar foi recentemente criado um Tribunal Penal Internacional com sede em Haia.

A Declaração tem por último como grande objectivo, que através da cooperação entre os povos seja criado um estado de felicidade entre os seres humanos, e que no futuro todos sejam iguais em dignidade e em direitos.

VALORES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Quais os fundamentos que poderão justificar uma crise actual dos valores?  

Vivemos numa época que aceita como um dado adquirido que os valores estão em crise. Em todas as épocas sempre surgiram vozes manifestando idênticas impressões. A nossa, neste ponto, parece ter assumido que se terá atingido uma crise generalizada.  Neste sentido, com certa insistência são feitas duas afirmações similares: 

 Não existem actualmente critérios seguros para distinguir o justo do injusto, o bem do mal, o belo do feio; Tudo é relativo, subjectivo.

Não existem valores. Tudo depende das circunstâncias e dos interesses em jogo.

Destas posições facilmente se conclui que os valores que tradicionalmente eram dados como imutáveis, ou foram postos em causa ou abandonados. O que hoje predomina, segundo muitos autores são apenas posições relativistas  ou niilistas. 

Para explicar esta crise de valores que atravessa todos os domínios da sociedade são apontadas entre outras, as seguintes razões:

1. A critica sistemática que muitos filósofos, como Karl Marx, Nietzsche e Freud fizeram aos valores tradicionais.

Karl Marx argumentou que os valores ( enquanto produtos ideológicos) não podem ser desinseridos da história e dos contextos sociais. Os valores dominantes numa dada sociedade são sempre aqueles que melhor servem a classe dominante na sua exploração das classes trabalhadoras. Defendeu por isso a necessidade da destruição de todos os tipos de moral dominante (burguesa), substituíndo-a por uma moral dos oprimidos (proletários). 

Nietzsche afirmou por seu turno que não existiam valores absolutos. Os valores são sempre produto de interesses egoístas dos indivíduos. Os valores estão ligados às

20 Adaptação, Isabel Valente

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Filosofia 10º anocondições de existência de certos grupos, justificam as suas hierarquias e mecanismos de domínio, e mudam sempre que as condições de existência se alteram. Considera, por exemplo, que a moral ocidental está assente em valores de escravos, preconizando por isso o aparecimento de um homem novo, completamente livre, e capaz de expressar a sua vitalidade sem limites, para além de valores de  arcaicos como o bem e o mal. 

Freud    mostrará que os valores morais fazem parte de um mecanismo mental repressivo formado pela interiorização de regras impostas pelos pais, e que traduzem normas e valores que fazem parte da consciência colectiva. 

2.A crise nos modelos e nas relações familiares. A família é onde, em princípio, qualquer ser humano adquire os seus primeiros valores. Ora as estruturas familiares estão em crise, o que se reflecte, por exemplo, no aumento da dissolução de casamentos, no aparecimento de novos tipos de uniões (casamento de homossexuais, etc),etc. Por tudo isto, muitos país manifestam cada vez mais dificuldade em elegerem um conjunto de valores que considerem fundamentais na educação dos seus filhos. 

3.As profundas alterações económicas, cientificas e tecnológicas que a nossa sociedade moderna tem conhecido. Estas não apenas estimularam o abandono dos valores tradicionais, mas parecem ter conduzido a humanidade para um vazio de valores. 

Cinco exemplos

1.A promessa que surgiu no século XIX de que a humanidade caminhava para um era de progresso moral e civilizacional generalizado, foi completamente posta de parte no século XX, com duas guerras mundiais, dezenas de milhões de mortos e um holocausto meticulosamente planeado. O que a humanidade encontrou foi um progresso limitado, no meio da barbárie.

2.A ideia da ciência como empenhada na verdade e aperfeiçoamento da humanidade, ficou igualmente comprometida no século XIX com o envolvimento de inúmeros cientistas na investigação da armas mortíferas, em cruéis experiências com seres humanos, etc. O lado negro da ciência tem vindo a evidenciar-se em todos os domínios (manipulação genética, construção de armas de destruição maciça, etc).

3.O desenvolvimento económico dos países tem sido feito à custa da poluição do ar, contaminação da águas, destruição das florestas, acumulação de lixos, etc. As previsões sobre as consequências futuras destas acções são aterradoras: o planeta terra está numa rápida agonia.

4.A sociedade da abundância está longe de ser uma realidade em todo o planeta. Dois terços da humanidade vivem abaixo do limiar da miséria.  Em alguns continentes, como a África, assistimos à destruição de populações inteiras pela fome,guerras, catástrofes naturais, ecológicas, epidemias, etc. Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres parecem estar condenados à eterna miséria.

5. A globalização trouxe consigo uma maior aproximação entre o povos em termos de informação, facto que aparentemente possibilitaria o desenvolvimento de uma consciência global, desperta para a questão das desigualdades dos recursos e das condições de vida entre os seres humanos.21 Adaptação, Isabel Valente

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Filosofia 10º anoMuitos autores contestam contudo esta interpretação, pois segundo afirmam, a informação que está a ser difundida à escala global não visa despertar a consciência crítica das pessoas mas brutalizá-las.

A circulação dos mesmos produtos à escala planetária está a provocar uma rápida uniformização de hábitos, costumes e culturas entre todos os povos. Ora os modelos culturais e comportamentais que estão a ser veiculados pelas grandes potencias mundiais, em particular os EUA, não passam de produtos culturais acríticos, onde se apela apenas ao consumismo e relativismo de valores. Tratam-se de produtos culturais destinados a serem consumidos por populações pouco educadas ou exigentes em termos intelectuais.

Este panorama profundamente negro sobre a sociedade que que vivemos está longe de ser consensual. Muitos autores afirmam que não existe qualquer "crise", o que se passa é que a sociedade se tornou menos "rígida" e "monolítica", sendo agora mais "aberta" e sensível às diferenças  individuais, o que muitas vezes, poderá assumir formas próximas do indiferentismo.

Em todo o caso, uma coisa é certa: os valores relativistas (particulares, subjectivos) que sustentam este mundo estão a revelar-se demasiado funestos para a Humanidade no seu conjunto.  É por esta razão que se aponta para a necessidade de se estabelecer novos consensos em torno de valores que nos serviam de guia para o nosso relacionamento inter-pessoal e colectivo. Em causa está o nosso futuro comum.

2.2.VALORES E CULTURA - A DIVERSIDADE E O DIÁLOGO DE CULTURAS

A-Valores e cultura -A diversidade e o diálogo de culturas

1. Definir o conceito de cultura

Quando falamos de sociedade estamos a referir – nos a um conjunto de pessoas que se relacionam entre si, de forma mais ou menos organizada, cooperando umas com as outras. O modo de vida próprio de uma sociedade é o que se pode designar por cultura, na qual, se manifesta por formas específicas e divergentes. E.B. Tylor definia como: “ um todo complexo que inclui os conhecimentos, as crenças, a arte, a educação, a moral, as leis, as tradições, o casamento, (…). Os costumes e todas as outras e disposições e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade.

2. Distinguir elementos instrumentais de elementos ideológicos de uma cultura.

Por elementos da cultura entendemos toda a diversidade de valores que contribuem para a resolução de problemas dos indivíduos e dos grupos, para fomentar a coesão social e para a determinação da sua identidade própria. Entre eles temos dois tipos de elementos:

22 Adaptação, Isabel Valente

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Filosofia 10º ano• Elementos Instrumentais ou físicos: são de carácter físico que visam

satisfazer as necessidades básicas dos indivíduos, tais como, a alimentação, o defecar, as necessidades de segurança, de afecto (…), objectos naturais, técnicos e imóveis.

• Elementos ideológicos ou imateriais: são de carácter imaterial que permitem organizar e tornar corrente o pensamento e o cujuramento (procuram dar coerência e organizar o pensamento e o comportamento humano).

ETHNOCENTRISMO, RELATIVISMO CULTURAL E MULTICULTURALISMO

3. Explicar os conceitos de: Multiculturalismo – o que é?

São pessoas de espaços culturais diferentes/diversos que convivem (ou são das muitas vezes obrigadas a relacionarem – se e a ter de conviver com as outras culturas) no mesmo espaço sócio – cultural (pessoas com culturas diferentes terem de lidar umas com as outras) onde por vezes surgem conflitos. Por ex.: as pessoas de raça negra, normalmente abandonam a escola muito cedo, não podendo arranjar emprego e acabando por se tornarem marginais.

Atitudes face á diversidade cultural:

Etnocentrismo

O Etnocentrismo é uma atitude que consiste em observar as outras culturas em função da sua própria cultura (tomando a nossa como exemplo). Desta atitude pode resultar de imediato duas consequências: a intolerância relativamente ás outras culturas; o sentimento de superioridade da nossa cultura em relação as outras.

O etnocentrismo é a atitude pela qual um indivíduo ou um grupo social, que se considera o sistema de referência, julga outros indivíduos ou grupos à luz dos seus próprios valores. Pressupõe que o indivíduo, ou grupo de referência, se considere superior àqueles que ele julga, e também que o indivíduo, ou grupo etnocêntrico, tenha um conhecimento muito limitado dos outros, mesmo que viva na sua proximidade.

O termo etnocentrismo foi utilizado pela primeira vez por W. G. Sumner (1906), e corresponde à atitude pela qual os hábitos ou comportamentos próprios são acriticamente encarados como sendo indiscutivelmente superiores aos hábitos ou

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Filosofia 10º anocomportamentos de outrém. É a atitude pela qual um indivíduo ou um grupo toma como referência os valores partilhados no seu próprio grupo, quando avalia os mais variados assuntos. É uma atitude que encara o próprio grupo como se fosse o centro da realidade. O termo é também utilizado para criticar os cientistas sociais que apresentam visões acusadas de estreitas e preconceituosas acerca dos grupos ou sociedades estudados. Assim, como exemplo temos o regime Nazista, que acreditava na sua supremacia e que deveria existir apenas uma única raça, a Ariana.  As pessoas que não correspondiam à definição da constituição física desta raça eram executadas.

Os etnocentristas podem assumir posturas negativas como:

- Xenofobia: ódio aos estrangeiros (ex.: rejeitar os emigrantes dos países leste ou do continente africano;

- Racismo: repudio por determinados grupos étnicos (raças). Ex.: rejeição dos indivíduos de cor diferente do nosso, rejeição dos indivíduos com um credo religiosos diferentes;

- Chauvinismo: defesa da pátria. Ex.: o regime de Salazar, o regime nazista, da democracia, etc.

Relativismo cultural

O Relativismo cultural: exige tolerância, nem sempre a tolerância actua, então, cada cultura fica encerrada, fechada em si próprio impedindo o diálogo de culturas (inter cultural).

Princípio que afirma que todos os sistemas culturais são intrinsecamente iguais em valor, e que os aspectos característicos de cada um têm de ser avaliados e explicados dentro do contexto do sistema em que aparecem.

A comunidade Hippie é um exemplo de relativismo cultural, são respeitados pela sociedade e respeitam-na, mas não vivem segundo os seus costumes e ideais, e vivem  sem seguir as tendências da sociedade.

Os relativistas não escapam a certos riscos, entre eles pode desembarcar:

- Racismo: preservam a sua própria cultura, que consiste em não se misturarem;

- Isolamento: promovem a separaram entre culturas (não tendo qualquer interesse por se estabelecerem contacto com povos diferentes);

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Filosofia 10º ano- Estagnação: há uma visão estática das culturas, considerando que o (+)

importante é manter as tradições para conservar a mesma colectiva, de modo a que “ esta” não seja esquecida.

Interculturalismo

O Interculturalismo: implica o respeito pelas outras e privilegia o diálogo intercultural. O Interculturalismo promove: a compreensão da natureza pluralista; promove o diálogo entre culturas; compreende a complexidade e riqueza da relação entre as diferentes culturas; e colabora na busca de respostas aos problemas mundiais. O Interculturalismo propõe, assim; que se aprenda a conviver num mundo pluralista e se respeite e defenda a humanidade.

A integração de estudantes africanos nas escolas portuguesas prende-se directamente com o conceito de interculturalismo. O interculturalismo implica a integração de indivíduos e grupos étnicos minoritários numa sociedade com uma cultura diferente. Assim, estas minorias étnicas poderiam expressar e manter elementos distintivos da sua cultura ancestral, especialmente em relação à língua e à religião.

Podemos dizer que o interculturalismo defende a ausência de desvantagens sociais e económicas ligadas a aspectos étnicos ou religiosos; a oportunidade de participar nos processos políticos, sem obstáculos do racismo e da discriminação e o envolvimento de grupos minoritários na formulação e expressão da identidade nacional.

O modelo intercultural afirma-se no cruzamento e miscigenação cultural, sem imposições.

O interculturalismo consiste em pensar que nós nos enriquecemos através do conhecimento de outras culturas e dos contactos que temos com elas e que desenvolvemos a nossa personalidade ao encontrá-las. As pessoas diferentes deveriam poder viver juntas apesar de terem culturas diferentes. O interculturalismo é a aceitação e o respeito pelas diferenças. Crer no interculturalismo é crer que se pode aprender e enriquecer através do encontro com outras culturas.

A ONU é uma organização que integra pessoas de culturas diferentes, que lutam por um bem comum, ajudando a integrar outras culturas noutras comunidades.

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Filosofia 10º anoUNIDOS para uma acção intercultural

4. Explicar a importância do Diálogo inter cultural

O diálogo entre culturas, ou seja o diálogo intercultural, corresponde a uma existência do nosso tempo, em que temos uma necessidade de dar respostas comuns a desafios de toda a humanidade. O Diálogo permite o enriquecimento cultural, a troca e partilha de ideias; exige a igualdade entre todos os homens (povos da terra): de direitos e deveres; dar respostas questões que afectam a humanidade, a guerra; a poluição; as doenças; (…). Etc.

DINÂMICA CULTURAL: ACULTURAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO

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